Inclusão Digital: articulação dos nós da rede

Objetivos e Justificativa

“Inclusão digital” é uma idéia/conceito que emerge no contexto dos Programas Sociedade da Informação, propostos pelos mais diversos países, e que, neste início de milênio, configura-se como uma das idéias-chave que perpassam projetos e ações nos mais diferentes campos do saber.

No Brasil, inclusão digital é tida como uma prioridade de governo. Projetos nessa área vêm ganhando destaque tanto nas esferas federal, estaduais e municipais, quanto no âmbito da sociedade civil organizada, a partir do lançamento do Programa Sociedade da Informação no Brasil – Socinfo (www.socinfo.org.br), em 2000.

Tomando como parâmetro estudos que já vimos realizando sobre a temática (BONILLA, 2002) e também os projetos apresentados e os debates ocorridos em 2005 em encontros científicos realizados em Salvador (II Festival de Software Livre, Fórum de Inclusão Digital e Responsabilidade Social realizado durante a 5ª Erbase, I Fórum de Inclusão Digital/Nordeste, realizado durante o Inforum), bem como a demanda por diretrizes metodológicas para as ações de inclusão digital que vêm sendo encaminhadas à Faced, é possível afirmar que apesar do grande número de Programas e Projetos de Inclusão Digital desenvolvidos no país, ainda estamos bastante carentes de pesquisas sobre a temática; pesquisas que explorem as concepções que embasam as ações, bem como sobre as metodologias de trabalho utilizadas pelos diferentes grupos. A maioria dos grupos vem embasando-se numa idéia de senso comum e/ou mercadológica de que para incluir digitalmente basta disponibilizar o acesso e/ou capacitar a população para usar as tecnologias de informação e comunicação como consumidora de bens, serviços e informações, o que demanda apenas a oferta de treinamento aligeirado para a aquisição de competências básicas para o manuseio dessas tecnologias.

Por outro lado, entendemos que a educação e a democratização são, na contemporaneidade, processos críticos para o desenvolvimento de sociedades dinâmicas, capazes de construir seu futuro. Entendemos também que as sociedades necessitam de cidadãos e instituições que apresentem capacidades criativas, analíticas e de compreensão. Torna-se então necessário extrapolar o reducionismo feito ao conceito de inclusão digital, priorizando processos de formação e de cidadania. Estas são atitudes de ordem política que competem aos governos, às universidades e à sociedade civil e que não podem ser prorrogadas, sob pena de acirrarem-se as desigualdades sociais e a exclusão.

Buscando, portanto, extrapolar o reducionismo feito ao conceito e abordá-lo na perspectiva da participação ativa, da produção de cultura e conhecimento, o que implica vontade e ação política, e um amplo processo educativo capaz de oportunizar à população a participação na dinâmica contemporânea como sujeitos críticos, criativos, éticos, autônomos e com poder de decisão e produção, é que propõe-se a presente pesquisa.

Nesta perspectiva, esta pesquisa tem como objetivos fazer o mapeamento dos projetos de Inclusão Digital desenvolvidos em Salvador, destacando as iniciativas e as pesquisas realizadas no âmbito da UFBA; conhecer as concepções de Inclusão Digital que estão presentes nesses projetos e pesquisas; estabelecer relação entre essas concepções e as ações que são desenvolvidas em cada projeto, procurando identificar e problematizar os modelo(s) pedagógico(s) utilizados; construir um conceito de inclusão digital articulado com conceitos de inclusão social; delinear diretrizes metodológicas a serem utilizadas nos Projetos de Inclusão Digital desenvolvidos na UFBA, em nível de extensão, bem como pelos demais grupos, buscando enfocar a articulação entre Inclusão Digital e Inclusão Social; articular fórum permanente de discussão entre os diferentes grupos que desenvolvem pesquisas e iniciativas de Inclusão Digital em Salvador, de forma a constituir uma comunidade de aprendizagem em torno do tema.

Metodologia

Para tecer o ambiente de aproximação, interação e reflexão com os diversos grupos que vêm desenvolvendo ações e pesquisas sobre inclusão digital, bem como para poder compreender as dinâmicas que estão sendo operacionalizadas nesses diversos espaços e fazer o mapeamento das intensidades das ações e dos sentidos dos discursos vinculados às ações desses sujeitos, buscaremos aportes na pesquisa etnográfica, visto ser este tipo de pesquisa a que busca a "descrição de um sistema de significados culturais de um determinado grupo" (LÜDKE e ANDRÉ, 1986:14) , preocupando-se com “o significado que têm as ações e os eventos para as pessoas ou os grupos estudados, [sendo que] alguns desses significados são diretamente expressos pela linguagem, outros são transmitidos indiretamente por meio das ações” (ANDRÉ, 1995:19) . Tal abordagem fundamenta-se, segundo Lüdke e André (1986:15) e André (1995:28-30), em dois conjuntos de hipóteses. Um que afirma ser o comportamento humano influenciado pelo contexto em que se situa, daí a importância de observar a dinâmica dos projetos acontecendo, de dar ênfase ao processo, àquilo que está ocorrendo e não ao produto ou aos resultados finais. E outro, que determina ser quase impossível entender o comportamento humano sem tentar entender o quadro referencial dentro do qual os indivíduos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. Daí a necessidade de nos preocuparmos com as concepções, com a maneira própria com que as pessoas vêem suas experiências e o mundo que as cerca, de tentar apreender e retratar a visão pessoal dos participantes.

Como uma das características da pesquisa etnográfica é a descrição, os pesquisadores necessitam fazer uso de uma grande quantidade de dados descritivos - situações, pessoas, ambientes, depoimentos, diálogos. Para tanto, combinaremos vários métodos de coleta de dados, buscando delinear um quadro mais amplo da situação estudada, e dessa forma compreender as estruturas de significação que os participantes da pesquisa dão às suas práticas, as inter-relações entre as dinâmicas desencadeadas em cada comunidade a partir dos projetos ali desenvolvidos.

Um dos métodos utilizados para a coleta de dados será a observação da dinâmica dos projetos, utilizada com a finalidade de participar da vida dos grupos, perceber e conhecer os sujeitos, as formas como agem, reagem e interagem nesses grupos. Para tanto, procuraremos adotar a atitude da “escuta-sensível” (BARBIER, 1997:58-63) , a qual consiste num “escutar/ver”. Procuraremos sentir os universos afetivo, imaginário e cognitivo dos grupos para “compreender do interior” as atitudes e os comportamentos, o sistema de idéias, de valores e de símbolos, sua “existencialidade interna”. Para entrar nessa relação com os grupos, buscaremos também escutar os silêncios, característica do universo virtual de potencialidades, deixando-nos surpreender pelo desconhecido, procurando compreendê-los na situação.

Para registrar as observações feitas, utilizaremos diário de pesquisa, gravador, filmadora, máquina fotográfica. O diário de pesquisa será utilizado para que possamos anotar o que observamos, pensamos, refletimos ao longo do processo. Outro instrumento utilizado para a coleta de dados será o questionário, aplicado aos sujeitos da pesquisa, para identificar as características básicas da população e dos projetos de inclusão digital realizados. Com o objetivo de aprofundar questões que emerjam dos questionários, identificar as concepções que fundamentam as ações, as interpretações e representações que os sujeitos elaboram a partir dessas ações, estaremos realizando entrevistas semi-estruturadas com representantes da equipe de cada projeto e da comunidade participante. Também serão analisados documentos, registros e trabalhos realizados pelos grupos, que possam evidenciar as concepções e as metodologias de trabalho utilizadas, as vinculações existentes (ou não) entre elas, as situações e/ou contextos em que são utilizadas.

Para o tratamento desses dados utilizaremos software específico para análise de dados e o relatório etnográfico, produzido num espaço coletivo virtual – TWiki. Nesses espaços estaremos registrando os dados coletados, descrevendo as situações, estabelecendo vínculos entre elas (pontos de aproximação e discordâncias), compreendendo-as e revelando os seus múltiplos significados. O relatório etnográfico também será utilizado como subsídio para reuniões de estudo e trabalho dos pesquisadores.

Viabilidade e Financiamento

Por se tratar de uma pesquisa desenvolvida em Salvador, vinculada à Linha de Pesquisa Currículo e Tecnologias da Informação e Comunicação do Programa de Pós-graduação em Educação da UFBA, articulada a outras pesquisas desenvolvidas no Grupo de Pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias - GEC (teses, dissertações e monografias), portanto contando com a contribuição de mestrandos e doutorandos, e por estarmos utilizando a infra-estrutura disponível na Faced (computadores conectados à Internet, servidores, gravadores, filmadoras, máquinas fotográficas, biblioteca), não há necessidade de aporte de recursos adicionais para o seu desenvolvimento. Consideramos perfeitamente viável desenvolver o projeto no período de um ano, ou seja, de agosto de 2005 a julho de 2006, desde que possamos dispor do número de bolsistas solicitados. Como estes são alunos que já vêem desenvolvendo estudos sobre a temática, direta ou indiretamente articulados com algum projeto de Inclusão Digital em Salvador, estão interessados em desenvolver a pesquisa e comprometidos com a construção do conhecimento na área. Logo, a implicação de todos os pesquisadores com a pesquisa é também um fator que evidencia a viabilidade da pesquisa.

Resultados e impactos esperados

- compreensão dos processos vivenciados no âmbito dos grupos que desenvolvem ações de Inclusão Digital junto à comunidade de Salvador;

- abertura de um sítio local, utilizando sistemas livres, que servirá como espaço para a mobilização dos grupos que desenvolvem ações de Inclusão Digital para a reflexão e o debate em torno da temática (fórum permanente de discussão on-line via chat, lista de discussão, fórum, rádio web, produção de páginas) e também para a constituição de um repositório on-line, onde os diferentes grupos poderão disponibilizar seus materiais referentes ao tema, de forma a potencializar a troca de informações entre eles;

- provocação da reflexão sobre as práticas desenvolvidas nos diferentes grupos e a proposição de práticas mais conscientes e articuladas com processos de constituição de cidadania;

- elaboração de um conceito de inclusão digital articulado a conceitos de inclusão social

- produção e publicação de artigos a respeito da temática de estudo, de forma a socializar os resultados da pesquisa com outros pesquisadores e grupos de outros locais no país;

- participação em seminários da área, em nível regional e nacional, com o objetivo de divulgar a pesquisa e fortalecer o debate sobre o tema;

- contribuição com os processos de inclusão digital da população a partir do delineamento de diretrizes metodológicas, compatíveis com uma concepção social sobre o tema, e disponibilização de ferramentas livres, que possam ser utilizadas nas ações dos diferentes grupos, especialmente nos projetos de extensão da UFBA;

- fornecimento de subsídios para trabalhos de pesquisa em níveis de graduação, mestrado e doutorado dos integrantes do GEC, no que diz respeito ao tema inclusão digital

- alimentação do banco de dados público do Grupo de pesquisa Educação Comunicação e Tecnologias

- contribuição com a formação de um referencial teórico nacional nessa área emergente;

Cronograma de execução

Agosto de 2005 a março de 2006 - Leituras e estudos em torno do tema Inclusão Digital

Agosto de 2005 - Levantamento dos grupos que estão desenvolvendo pesquisas e ações de Inclusão Digital na UFBA e em Salvador; Elaboração de questionários a serem aplicados aos sujeitos da pesquisaAbertura de espaços virtuais (sítio) para dinamizar fórum permanente de discussão entre os grupos e para repositório de materiais desses grupos

Setembro de 2005 a fevereiro de 2006 Contato com os grupos, observação e registro das dinâmicas, aplicação dos questionários.Elaboração e realização de entrevistas com os sujeitos da pesquisaTranscrição das entrevistasAnálise de documentos, registros e trabalhos realizados pelos grupos.Desencadeamento do processo de troca entre os grupos nos espaços virtuais abertos Relatório parcial da pesquisa Março a junho de 2006 Análise dos dados coletadosProdução de artigos sobre o temaManutenção do processo de troca entre os grupos nos espaços virtuais abertos Junho de 2006 Relatório final da pesquisa

Referências bibliográficas (Máximo de 10 referências)

Relação itemizada das referências que subsidiam a proposta de pesquisa, colocando as mais importantes.

AFONSO, C. A. Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? Policy Paper - ILDESFES; Friedrich-Ebert-Stiftung, n. 26, setembro de 2000, 20 p.

BONILLA, Maria Helena. Inclusão digital e formação de professores. Revista de Educação, Lisboa. 2002.

BONILLA, Maria Helena Silveira. Escola Aprendente: desafios e possibilidades postos no contexto da Sociedade do Conhecimento. Salvador, 2002. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal da Bahia.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999.

NERI, Marcelo Côrtes (coord.). Mapa da exclusão digital. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2003.

PELLANDA, Nilze Maria. Inclusao Digital: tecendo redes afetivas/cognitivas. São Paulo : DP&A, 2005.

RHEINGOLD, Howard. A comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva, 1997

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão Digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da; CASSINO, João (org.). Software Livre e Inclusão Digital. São Paulo : Conrad do Brasil, 2003.

TURKLE, Sherry. A vida no ecrã: a identidade na era da internet. Lisboa: Relógio D’água, 1997.

Parte um

Plano de trabalho - Larissa Coelho?

Grupo de estudos

Atividades - Larissa Coelho?

Coleta, tabulação e análise dos Dados - Larissa Coelho

Relatório parcial do PIBIC - Larissa Coelho?

Relatório final do PIBIC - Larissa Coelho?

Parte dois

Plano de trabalho - Joseilda Sampaio?

Atividades - Joseilda Sampaio?

-- MariaHelenaBonilla - 14 Jun 2005

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